Continuação do livro Elvis e EU Elvis And Me CAPITULO 8
Foi uma estranha experiência, fazer compras com uma pessoa que eu mal conhecia, ainda por cima um homem. Alan parecia tão contrafeito quanto eu, mas garantiu que encontraríamos alguma coisa. Ele conhecia bem as butiques e também me levou à Saks Fifth Avenue. Enquanto escolhia as roupas, pensei na minha outra preocupação: a carta diária que prometera a meus pais. Como explicaria os carimbos postais de Las Vegas? Não era possível. Mas podia escrever as cartas com antecedência, numerá-las de um a sete e pedir que Jimmy remetesse de Los Angeles diariamente. Meus problemas estavam resolvidos. A Las Vegas!
Naquela noite o gramado na frente da casa de Elvis estava fervilhando de atividade. Parecia haver gente por toda parte. O enorme ônibus que George Barris mandara fazer especialmente para Elvis estava no caminho. Gente entrava e saía, carregando malas, discos, um aparelho estereofônico, caixas de Pepsi-Cola. Todos os preparativos e agitação davam a impressão de que Elvis estava se mudando, mas na verdade ele sempre viajava assim. Elvis ainda tinha receio de voar — um medo que mais tarde superou-e sentia-se mais tranqüilo quando estava no volante. Como não sabíamos por quanto tempo ficaríamos, Alan e Gene Smith providenciaram tudo o que Elvis gostava, a fim de que ele pudesse se sentir tão confortável como se estivesse em casa. Eu me sentia feliz. Era a primeira vez que estaríamos juntos sem restrições ou horário para voltar. Pouco antes de meia-noite todos se reuniram em torno do ônibus; era o momento de se despedir de quaisquer visitantes que o círculo habitual deixaria para trás.
Elvis vestia camisa branca, calça preta, luvas pretas e o eterno quepe de iatista. Ao partimos, ele gritou pela janela:
— Vamos voltar!
Pegamos a estrada para Las Vegas, no estado de Nevada. Eu não sabia para onde estava indo, mas a perspectiva de aventura me fascinava. E também me sentia orgulhosa; Gene sentava à direita, eu no meio, Elvis ao
ELVIS E EU
volante. Soube que Elvis sempre preferia guiar à noite, pois era mais fresco e havia menos tráfego. Ele parecia adquirir uma vida intensa a noite. Havia uma enorme diferença entre o Elvis durante o dia e o Elvis noturno. Depois que o sol se punha, outra personalidade assumia o controle e naquela noite em particular ele estava em grande forma. Num intervalo entre filmes, longe do Coronel Parker, livre das pressões e responsabilidades, ele podia relaxar e se divertir.
A caminho de Las Vegas, escutávamos músicas, comíamos e bebíamos Pepsi. No banco da frente, Elvis e Gene pilheriavam em sua linguagem especial. Elvis dizia alguma coisa e Gene respondia com um absurdo total. Quando a conversa parava, os dois se lançavam em ataques de surpresa, socando um ao outro. Se Gene achava que acertara um bom golpe, saía correndo para o fundo do ônibus, sabendo que Elvis sempre se recuperava e partia em seu encalço.
As brincadeiras continuaram durante a maior parte da extenuante viagem através do deserto. Eu me sentia fora de sintonia com as piadas particulares e as brincadeiras glamorosas. Era evidente que a turma percebia cada ânimo de Elvis. Eu ainda não me ajustara.
Chegamos a Las Vegas por volta das sete horas da manhã. Eu estava cansada e dormia quando Elvis gritou:
— Estamos entrando em Las Vegas. Olhe ao redor... só se vê hotéis. É conhecida como a Cidade do Pecado. Não é isso mesmo, Smith? Gene murmurou uma de suas respostas absurdas e Elvis riu, como sempre. O lugar parecia sossegado. Havia muitos táxis, alguns carros e poucas pessoas cansadas andando pelas ruas. Notei que fazia muito calor para sete horas da manhã, ainda mais para o mês de junho.
Fomos nos hospedar no Sahara Hotel. Para meu espanto, apesar de tão cedo, havia muita gente por toda parte. Elvis apontou para o cassino, estrondoso com os sons ritmados das máquinas caça-níqueis, as campainhas e um ou outro grito das mesas de dados.
— Isso é normal? perguntei a ele.
— Você ainda não viu nada, Honey. Espere até a noite para ver como isto aqui fica.
Não seria fácil esperar. Apesar de cansada, eu estava fascinada, observando os jogadores agrupados em torno das várias mesas e dos caça-níqueis. Elvis pegou-me pelo braço.
— Vamos subir para o quarto, Baby. Teremos tempo suficiente para isso mais tarde. É melhor descansarmos um pouco agora.
Seguimos o carregador para a suíte. A comitiva de Elvis começou no mesmo instante a arrumar os cômodos a seu gosto. Abriram as malas, arrumando suas roupas no armário com todo cuidado, alinharam os sapatos pelas cores, levaram os artigos de higiene para o banheiro. Armaram na sala seu toca-discos e os alto-falantes, reduziram a intensidade das luzes para criar o ambiente certo, ligaram todos os aparelhos de televisão.
— Por que sempre fica com a televisão ligada? — perguntei a Elvis.
— Porque me faz companhia — explicou ele. — Quando está ligada, tenho a sensação de que há pessoas ao redor.
Ele detestava entrar num cômodo silencioso e logo adotei também o hábito de ligar a televisão sempre que entrava num cômodo. Uma hora depois todos se retiraram, deixando a suíte com a impressão de que estava ocupada há muito, cada coisa em seu devido lugar. Elvis deu boa noite a todos e avisou que não deveriam nos acordar muito cedo. Ele trancou a porta do quarto, despiu-se e foi para a cama. Quando deitei ao seu lado, notei que ele estava tomando algumas pílulas para dormir. Mas não dei muita atenção. Não sabia o suficiente para sequer desconfiar de alguma ameaça potencial.
Eu sentia uma felicidade absoluta. Finalmente podíamos passar uma noite inteira dormindo juntos. Elvis me fitou e disse:
— Pode acreditar nisso, Baby? Depois de tanto tempo, aqui está você. Quem poderia jamais imaginar que chegaríamos a isso? Não vamos nem pensar na sua volta. Agora, só devemos pensar em nos divertir. Pensaremos no resto quando chegar o momento. Suas palavras estavam começando a ficar, enroladas. As reações eram mais lentas.
Ele me abraçou firme, murmurando várias vezes:
— Estou contente por ter você aqui... E, depois... o silêncio.
Olhei para os vidros de pílulas na mesinha-de-cabeceira e compreendi que ainda tinha competição. Quando acordei, à tarde, olhei para Elvis e aconcheguei-me contra seu corpo o máximo possível. Ele me enlaçou, apertando-me enquanto dormia. Contemplei suas sobrancelhas, as pestanas pretas e compridas, o nariz perfeito, a boca linda, de lábios cheios. Depois de algum tempo, eu estava dolorida de me manter na mesma posição, mas não me mexi, pois não queria despertá-lo.
Pensei nas pílulas que Elvis tomara antes de dormir. Estava aturdida, mas pensei que Elvis devia saber o que era melhor para ele e decidi não me preocupar mais com isso. Ele deve ter sentido que eu o observava atentamente, porque de repente abriu os olhos e desatou a rir.
— O que está fazendo? Se eu não a conhecesse, diria que está tentando me lançar um encantamento.
— Não conseguia mais dormir — murmurei, embaraçada por ele ter me surpreendido a observá-lo. — Acho que estou excitada demais.
Sentando na cama, Elvis disse:
— A primeira coisa de que preciso, Baby, é de uma xícara de café puro. Aperte o número quatro no interfone diga a Billy para encomendar o nosso desjejum. Ele sabe o que eu gosto e você informa o que quer. Diga a ele que deve estar aqui dentro de meia hora e para cuidar que o café esteja bem quente.
Saindo da cama, ele ligou a televisão e foi para o banheiro. Um momento depois ele enfiou a cabeça pela porta e acrescentou, sorrindo:
— Vista-se menina. Quero exibi-la por aí.
Era tudo o que eu precisava ouvir. Saltei da cama e corri para o meu banheiro. Enquanto me vestia, uma roupa informal de verão, podia ouvir música na sala. Entreabri a porta e fiquei surpresa ao constatar que todos os rapazes estavam ali, já vestidos, o desjejum posto na mesa de jantar. Terminei de escovar os cabelos e saí para a sala, onde todos me cumprimentaram com sorrisos afáveis. Elvis ainda não chegara e por isso ninguém começara a comer.
Todos estavam muito quietos. Embora já passasse de quatro horas da tarde, parecia que ainda era de manhã bem cedo. Cerca de quinze minutos depois Elvis entrou na sala, vestindo um terno com colete. Compreendi que
ELVIS E EU
não havia nada em meu guarda-roupa que se ajustasse à sua elegância. Ele foi até o aparelho estereofônico e pôs seu último disco para tocar, dizendo que a gravação era recente e queria que eu ouvisse suas últimas canções.
Só depois é que todos sentamos para comer. Era ótimo ouvir suas gravações antes de serem lançadas no mercado. Ele me perguntou o que eu achava de cada canção. Como eu sabia o que a juventude na Europa estava escutando, achei que meus comentários poderiam ser úteis. Ou pelo menos queria acreditar que fossem.
— Gosto muito das canções de ritmo rápido, como "Jailhouse Rock". Por que não grava mais canções assim? Não parecem tanto com o rock de seus discos anteriores.
Elvis me lançou um olhar de aversão tão intensa que fiquei apavorada.
— Mas que merda! explodiu ele. — Não pedi sua opinião sobre o estilo em que devo cantar. Perguntei se gosta das canções e mais nada... sim ou não. Já estou cheio das opiniões de amadores.
Não preciso de mais uma. Ele levantou-se, foi para o seu quarto e bateu a porta. Tentando recuperar o controle, fiz um esforço para reprimir as lágrimas. Estava embaraçada e confusa. O que havia de errado no meu comentário? Como podia deixá-lo tão transtornado? Por sorte, os rapazes já haviam deixado a mesa e estavam ocupados com diversas tarefas na outra sala. Não sabia se algum deles ouvira a explosão de Elvis, mas não queria confrontá-los. Sabia que Elvis possuía um temperamento explosivo-já o testemunhara antes, na Alemanha — mas nunca descarregara em cima de mim.
Lentamente, levantei-me, especulando para onde ir. A porta do quarto de Elvis ainda estava fechada. Embora partilhássemos o quarto, eu hesitava em entrar, com medo de que ele começasse a gritar comigo. Sem saber o que mais fazer, sentei ao lado dos discos e comecei a examiná-los, fingindo estar muito interessada.
E logo ouvi a porta do quarto abrindo, avistei Elvis parado ali. Ele fez um gesto para que eu me aproximasse. Relutante, larguei os discos e fui para o quarto, temendo o que ele ia dizer. Elvis fechou a porta, sentou-me na beira da cama e, para minha surpresa, começou a pedir desculpas:
— Desculpe, Baby. O que aconteceu antes não tinha realmente nada a ver com você. Acabei as gravações e ficaram ótimas, em comparação com o que geralmente querem de mim para os filmes.
Ele falou mais sobre o seu último filme, relatou a história, as canções, os diálogos, achando que era tudo uma porcaria.
Eu começava a compreender alguma coisa de sua frustração e insatisfação. Lembrei nossas conversas na Alemanha. Elvis sentia orgulho dos filmes que fizera antes de ingressar no exército. Falara cheio de esperanças sobre a perspectiva de fazer filmes com mais substância e menos canções.
— Cilla, daqui por diante planejo manter separadas a carreira de cantor e a carreira de ator.
Ele achava que era capaz de desempenhar papéis mais difíceis do que estavam lhe dando. A fim de se preparar, estudava determinados atores, aos quais admirava, como James Dean em "Assim Caminha a Humanidade" e Marlon Brando em "Sindicato de Ladrões" e "O Selvagem".
— Mas continuam a me oferecer apenas os mesmos musicais, Cilla, as mesmas histórias insípidas... e estão se tornando cada vez piores.
Seu maior problema era o fato de que esses filmes e os álbuns com trilha sonora eram sucessos espetaculares. Mas livrando-se de sua seriedade, ele pegou-me a mão e disse:
— Vamos fazer compras, Baby.
Essa era a maneira de Elvis compensar a sua explosão, mas eu levei algum tempo para superar. Acompanhei-o assim mesmo, forçando um sorriso entusiasmado. Estava começando a compreender como todos se comportavam de acordo com o ânimo de Elvis.
Levando Gene e Alan, embarcamos numa limosine à espera e andamos até que Elvis avistou uma butique em que vestidos atraentes, de lantejoulas, renda e babados, enfeitavam manequins na vitrine. Ele gritou para o motorista:
— Vamos parar aqui!
Pegando-me pela mão, ele levou-me para a butique. Todo o séquito acompanhou-nos, certamente o bando mais disparatado que já invadiu uma loja elegante como aquela. A vendedora ficou atônita.
— Oi dona. Sou Elvis Presley. Estamos dando uma olhada por aí. Talvez possa nos mostrar alguma coisa que agrade à minha amiga.
Os dois olharam para mim. A expressão da vendedora indicava que nós duas estávamos pensando a mesma coisa: aquelas roupas eram sofisticadas demais para uma garota como eu. Mas quando deparava com alguma coisa de que gostava, Elvis não pensava em termos de idade. Enquanto a vendedora ia até os fundos para buscar as roupas que encontrasse nos tamanhos seis e quatro, Elvis pôs-se a vasculhar os cabides, tirando diversas criações deslumbrantes e indagando quais me agradavam.
— São todos lindos — balbuciei. — Mas não sei como eu ficaria neles.
— Deixe que eu julgue isso — Disse Elvis, piscando um olho para Gene, que murmurou um de seus comentários absurdos.
Todos desatamos a rir, o que trouxe a vendedora de volta, apressadamente, carregando várias roupas. Elvis indicou suas preferências e declarou:
— Experimente essas roupas. E escolha quaisquer sapatos combinando, encaminhei-me para a cabine. A vendedora seguiu-me.
Longe dos olhos de Elvis, ela tratou-me como uma garotinha, mas eu estava tão encantada com as roupas que não me importei. Ao me contemplar no espelho com um vestido longo de jérsei preto e sandálias douradas de saltos, mal pude me reconhecer. Parecia mais velha, muito sensual e sofisticada. Quando saí da cabine, a vendedora murmurou:
— Não está nada mau para uma criança.
Elvis deu uma olhada e exclamou:
— Maravilhoso! Vamos levar!
Ficamos na butique por mais duas horas. Elvis me comprou não apenas o vestido preto, mas também outro de cetim azul, diversas roupas lindas de seda e "chiffon" além de um lindo vestido de brocado azul-claro, tudo acompanhado por bolsas e sapatos combinando. Quando saímos, deparamos com uma multidão formada lá fora.
Elvis olhou para Alan, que desapareceu no mesmo instante. Depois, ele deu autógrafos a diversas pessoas e despediu-se. Gene levou-nos pelos fundos da loja, onde Alan esperava com o carro, pronto para nos levar de volta ao hotel. Chegamos à suíte, Elvis anunciou:
ELVIS E EU
— Estou morrendo de fome. Joe, peça-me um filé, mas cuide para que seja feito como eu gosto. O que vai querer, Honey?
— Eu sempre mando eles fazerem como você gosta, Elvis — protestou Joe.
— Pois mande de novo — disse, Elvis em tom áspero. — A carne sempre vem meio crua.
Para Elvis, bastava a carne estar um pouco rosada para ser crua. Quando pediam um filé para ele, todos especificavam "muito bem passado". Virando-se para Alan, Elvis determinou:
— Orelha de Porco (ele sempre punha apelidos em todos os seus empregados), faça reservas para o show de Red Skelton à meia-noite. E veja se há alguém no hotel que possa pentear e maquilar Cilla.
— Pentear e maquilar? — repeti. — O que há de errado com os meus cabelos?
Eram compridos e castanho-escuros, penteados de um jeito informal. Mas além de sentir que ele não gostava do meu penteado, comecei a pensar agora que também não gostava de minha aparência.
— Não há nada de errado com seus cabelos, querida. Acontece apenas que estamos em Las Vegas. Todas as mulheres andam com um penteado formal. E você precisa de um pouco de maquilagem em torno dos olhos. Para ressaltá-los ainda mais. Gosto de bastante maquilagem. Serve para definir as feições.
Definir as feições? Na ocasião, fazia muito sentido... e Elvis sabia o que estava fazendo.
Enquanto esperávamos o jantar, Elvis pôs um dos seus discos na vitrola e sentou ao meu lado, cantando alto, acompanhando sua própria voz no disco. Naquele momento toda a minha paixão foi reavivada. Quando ele cantava sobre o amor perdido ou uma vida passada no sofrimento e angústia, dizia a letra com tanta convicção que eu podia sentir toda a intensidade de sua dor. Elvis era fã da música Country muito antes que se tornasse popular e sempre se mostrara impressionado com a emoção intensa que tais gravações ofereciam.
Depois do jantar começamos a nos aprontar para a noitada. A pedido de Elvis, Armond, um cabeleireiro do hotel, veio à suíte e passou duas
horas ajeitando minha nova aparência. Ele puxou e torceu meus cabelos, fazendo uma mecha comprida cair pela frente do ombro esquerdo. Depois, aplicou tanta maquilagem que não dava para determinar se meus olhos eram pretos, azuis ou pretos e azuis. Era a aparência dos anos sessenta, só que mais extremada.
Era assim que Elvis queria. Quando pus meu vestido novo de brocado completou-se a transformação de uma garota inocente de dezesseis anos para uma sereia sofisticada. Eu parecia uma das dançarinas do Folies-Bergère.
— Mas o que aconteceu com a pequena Cilla? — disse Elvis, ao me ver. — Você está linda. Joe, dê um pulo até aqui. Veja o que descobri.
Joe entrou, teve uma reação de surpresa e comentou:
— Não parece a garotinha que conhecemos na Alemanha, usando um vestido de marinheira.
Todos riram e partimos para assistir ao show da meia-noite de Red Skelton. Chegamos pouco depois que as luzes apagaram e o maître, usando uma lanterna, conduziu-nos à nossa mesa. Elvis sempre procurava chegar desapercebido, a fim de não desviar a atenção do artista que estivesse fazendo o espetáculo. Mas espalhou-se pela audiência a notícia de que ele estava ali e poucos segundos depois os murmúrios começaram, várias cabeças se viraram.
Ao final do espetáculo, Elvis sempre tentava sair antes que as luzes acendessem. Mas naquela noite não o fizemos. As luzes se acenderam e no instante seguinte estávamos cercados por uma multidão entusiástica,as pessoas se empurrando e acotovelando,ansiosas em conseguirem um autógrafo.
Tendo apenas pouco mais de 1,60m de altura, fui engolfada pelo aperto e me senti sufocada. Estendi a mão para Elvis, dominada pelo pânico, e balbuciei:
— Não consigo respirar. Tenho de sair daqui.
A princípio ele sorriu, depois assumiu uma expressão de preocupação, ao perceber meu desespero. Ainda sorrindo e dando autógrafos, ele disse a Alan:
— Tire Cilla daqui o mais depressa que puder. Irei me encontrar com vocês assim que for possível.
Alan olhou para mim, pegou-me a mão e abriu caminho pela multidão, saindo do hotel. Respirando o ar fresco lá fora, recuperei o controle. Pela experiência, aprendi a efetuar um reconhecimento das saídas sempre que entrava com Elvis em alguma sala apinhada.
Quando ele saiu também, poucos minutos depois, a limusine já estava à espera. Embarcamos e partimos para o Sahara Hotel, ao encontro da minha primeira aventura no jogo. Elvis não era um jogador sério, pois não se importava se ganhava ou perdia. Jogava apenas pela diversão. Um charuto sobressaindo no canto da boca, um copo na mão, os olhos se estreitando desconfiados para as cartas, ele oferecia uma encenação impecável de Clark Gable como Rhett Butler. Sentei orgulhosa ao seu lado, a própria Scarlet O'Hara.
Eu nunca jogara vinte-e-um antes, mas depois de algumas mãos Elvis concluiu que eu pegara o jeito. Entregou-me quinhentos dólares e disse, jovialmente:
— Está agora por conta própria, menina. O que ganhar é seu e o que perder... discutiremos a respeito mais tarde.
Sorri e pedi ao crupiê que me incluísse no jogo. Olhei para as minhas cartas, contando com os dedos por baixo da mesa. Nove mais oito dá dezessete e depois um cinco faz...
— Vinte e um! — gritei, abrindo as cartas por baixo da mesa e olhando para Elvis, em busca de aprovação.
— Deixe-me dar uma olhada. — Ele recolheu as cartas, cerrando um olho ao contar. Depois, inclinando-se para mim, ele sorriu e sussurrou: — Desculpe Baby, mas você está com vinte e dois.
Fiquei tão embaraçada que pedi licença e fui me refugiar no banheiro. Acabei tomando coragem para voltar, tentei de novo e a sorte me ajudou, pois ganhei duzentos dólares.
Durante as duas semanas seguintes dormíamos de dia e jogávamos à noite. Se havia algum show, íamos assistir; se havia um cassino, íamos jogar. A fim de me adaptar a esse estilo de vida vertiginoso e horários insólitos, passei a acompanhar Elvis e os outros, tomando anfetaminas e
ELVIS E EU
pílulas para dormir. E tomava as pílulas apesar de todas as apreensões que sentia a respeito. Eram essenciais para que eu não ficasse para trás. Estava me adaptando. As inibições foram se desvanecendo, tornei-me mais positiva, especialmente depois que tomava as pílulas. Gostava da sensação. Embora fosse uma fuga da realidade, estávamos em sintonia e eu me convencia de que me ajustava cada vez mais ao mundo de Elvis. Estávamos aprendendo tudo a respeito um do outro e aproveitando aquela viagem para compensar os dois anos de separação. Ambos ficávamos cada vez mais apaixonados... e evitávamos pensar no momento em que teríamos de nos separar mais uma vez.
ELVIS E EU
CONTINUA,,,,,,,,
ELVIS E EU
CONTINUA,,,,,,,,
Nenhum comentário:
Postar um comentário