Elvis 1956
quinta-feira, 13 de abril de 2017
LIVRO ELVIS E EU CAPITULO 9
Continuação do livro Elvis e EU Elvis And Me CAPITULO 9
Um dia antes do meu retorno à Alemanha, Elvis levou-me para um canto e disse:
— Por mais que eu deteste dizer isso, Baby, temos de enfrentar a realidade. Nosso tempo se esgotou.
Perdi completamente o controle e me agarrei a ele, comprimindo a cabeça contra o seu peito.
— Não vou embora — balbuciei, chorando. — Não vou deixar você nunca mais. Ligarei para meus pais e direi que perdi o avião.
— Ora, Baby você acha mesmo que eles vão numa conversa assim?
— Pois então direi a verdade: que amo você e não quero voltar.
— Calma, calma... Só vai contribuir para tornar as coisas mais difíceis na próxima vez. Tenho pensado muito a respeito e sempre quis que você conhecesse Graceland. Mas neste momento tenho alguns negócios para tratar em Menphis e depois farei outro filme. Mas se você voltar agora, tirar boas notas na escola e se comportar direito, talvez seus pais deixem passar o Natal em Graceland, comigo e minha família.
Adorei a idéia, mas ainda faltavam seis meses para o Natal. Qualquer coisa podia acontecer nesse intervalo. Naquela noite na cama, Elvis manteve-me apertada em seus braços por um longo tempo. Senti que ele estava fazendo algo mais do que apenas me confortar. Era o seu jeito de declarar que gostava profundamente de mim.
E mais do que isso: Sua convicção firme de que só devia consumar o nosso amor no casamento me dava uma enorme esperança para o futuro Nossas carícias e demonstração de afeto naquela noite tiveram mais sentimento e intensidade do que em qualquer outra ocasião anterior. Elvis não me deixaria voltar para casa sem levar um pouco dele. Não entrou em mim; não precisava. Satisfez todos os meus desejos.
— Quero você de volta do jeito como está agora — sussurrou ele, pouco antes do amanhecer. — E não se esqueça de uma coisa: eu sempre saberei.
Eu sorri e assenti. Não podia conceber a idéia de querer qualquer outro.
Elvis não me acompanhou ao aeroporto. Trocamos um beijo de despedida na limusine. Foi um momento de ternura, mas terrivelmente breve. Acho que a angústia não poderia ser maior, mesmo que ele me dissesse que eu nunca mais voltaria. Andei para o avião como um robô. Estava num estado de torpor, que persistiu durante todo o vôo de onze horas. Não falei com ninguém e não me importei que os outros vissem as lágrimas que a todo instante me escorriam pelo rosto. Meu mundo chegara a um fim abrupto. Finalmente fechei os olhos e revivi na imaginação cada momento da visita. E de repente a aeromoça estava nos dizendo para prender os cintos de segurança, pois aterrissaríamos em breve.
Não me passou pela cabeça a idéia de lavar o rosto antes da chegada. Continuei sentada, atordoada, esperando que o avião terminasse de taxiar e parasse. Depois, apaticamente, peguei minhas coisas e desembarquei. Mamãe chorou de alegria ao me ver, papai exibia um sorriso largo de boas vindas. Mas quando me aproximei, suas expressões mudaram de satisfação para horror absoluto. Papai virou o rosto, furioso. Por um momento, mamãe ficou imóvel, fitando-me fixamente. Depois, abriu a bolsa, tirou um espelho e estendeu-o em minha direção.
Olhe para você! Como pôde sair do avião desse jeito? Contemplei-me no espelho e no mesmo instante compreendi a reação dos dois. Eu os deixara duas semanas antes como uma garota viçosa de dezesseis anos, usando um costume branco apropriado para a minha idade e sem qualquer vestígio de máscara no rosto.
Agora, não apenas estava usando a maquilagem intensa que Elvis apreciava, mas também a borrara por completo com, as lágrimas. Não me dera ao trabalho de pentear os cabelos, que estavam desgrenhados. Meus pais estavam chocados e desapontados.
ELVIS E EU
Embaraçada demais para encará-los, levei a mão ao rosto e discretamente tentei remover o resíduo de máscara preta. E, depois, murmurei:
— Eu gostaria de ir ao banheiro.
— Você vai direto para casa — disse papai, em tom áspero. — Se deixou essa coisa no rosto por tanto tempo, pode muito bem agüentar por mais uma hora.
Ele não disse praticamente mais nada até que cheguei em casa e lavei o rosto.
O Natal na família Beaulieu sempre foi uma grande festa, mas o Natal de 1962 foi uma ocasião em que eu não estava preocupada com presentes. Seguia para o lugar com que muitas vezes sonhara, mas nunca me permitira acreditar que algum dia conheceria — Graceland.
Não foi fácil chegar lá. A trama para isso começou uma madrugada, às 2:10 horas, quando acordei sonolenta para atender o telefone e ouvi a voz de Elvis. Ele parecia na maior animação. Rindo e gracejando, contou que a RCA lhe enviara discos de demonstração horríveis para o seu próximo filme.
— Estou ouvindo os discos, Baby, e não dá para acreditar. Tenho de rir, porque se não, vou chorar.
Também ri, em solidariedade, mas podia perceber a tristeza em sua voz. Depois, ele acrescentou, suavemente:
— Quero você aqui no Natal. Não me importo como vai conseguir ou o que terá de dizer a seus pais. Apoiarei qualquer história que contar, desde que esteja aqui.
Eu tremia toda quando desliguei. Não podia imaginar que meus pais me permitissem viajar de novo — especialmente no Natal — Mas não havia a menor possibilidade de desapontar Elvis.
Depois de alguns dias a evitar o assunto, transmiti o pedido de Elvis a mamãe.
— De jeito nenhum — declarou ela. — Não tem o menor cabimento. O Natal é uma festa para a família. É assim que sempre foi e não vai mudar... nem mesmo por Elvis Presley.
Eu não ia desistir. Minha pobre mãe estava dividida entre converter em realidade um sonho de sua filha e cumprir o que julgava ser a sua obrigação familiar.
— Quando isso vai acabar? — ela murmurou, com uma expressão angustiada.
Mas ela acabou concordando em falar com papai. Foi a primeira brecha. Outra vez súplicas. Outra vez as promessas. Um mês depois eu estava num avião, a caminho dos Estados Unidos. Elvis pedira a Vernon e Dee que fossem me esperar no Aeroporto La Guardia, em Nova Iorque, levando-me a Menphis, porque ele não queria viajar sozinho.
Quando chegamos a Menphis, eu estava ao mesmo tempo exausta e exultante. Fomos para casa de Vernon, na Hermitage Drive, a pouca distância de Graceland. Elvis dera instruções expressas de que somente ele poderia me levar pelos portões de Graceland.
Ele telefonou poucos minutos depois que chegamos à casa de seu pai. Vernon me passou o fone. Antes que eu pudesse dizer duas palavras, Elvis gritou que já estava a caminho. Minutos depois a porta foi aberta bruscamente e me joguei em seus braços.
Graceland era tudo o que Elvis dissera. O gramado da frente estava enfeitado com um cena da Natividade e as colunas brancas da mansão brilhavam com pequenas lâmpadas coloridas. Foi uma das cenas mais lindas que já contemplei em toda minha vida.
Dentro da mansão havia uma porção de amigos e parentes de Elvis, todos esperando para me cumprimentar. Eu me sentia relaxada e confiante enquanto ele me apresentava a todos, porque já conhecera a maioria dos seus amigos, quando estivera em Los Angeles. Depois, Elvis disse:
— Cilla, tem uma pessoa muito especial esperando por você. Com um sorriso, ele levou-me pela escada e foi abrir a porta do quarto da avó, gritando:
— Dodger, olhe só quem está aqui! É a pequena Cilla. Ela fez uma longa viagem só para passar o Natal com a gente!
— Dodger sorriu e me cumprimentou com sua voz gentil:
— Santo Deus, criança, você levou muito tempo para vir até aqui. Ela estava sentada numa poltrona de encosto alto. Inclinei-me e abracei-a, afaguei suas costas.
Estava feliz pela aparência da boa Dodger. Seus cabelos, outrora completamente grisalhos, exibiam agora um castanho-escuro de aspecto natural. Notei que ela não estava tão magra como na Alemanha. Na Goethestrasse, 14, Dodger cuidava de uma casa sempre movimentada; em Graceland, ela se retirava para o seu quarto.
Quando Elvis nos deixou a sós, compreendi que alguma coisa a estava incomodando e perguntei:
— Vovó, como estão as coisas com ele?
Ela me fitou e depois baixou os olhos para o lenço de renda em seu colo.
— Não sei, meu bem. Estou preocupada com Elvis e Vernon. Elvis ainda está zangado por causa do casamento do pai. (Vernon e Dee haviam casado um ano antes.) Ele quase não fica mais em Graceland e isso deixa Vernon preocupado. Não suporto ver os dois zangados assim. Deus tenha misericórdia. Elvis não foi ao casamento, como você já deve saber. Bem que Elvis se esforça, mas quando ela entra na sala ele simplesmente se levanta e sai. Não sei se ele algum dia aceitará o casamento. Ela puxou a caixinha de rapé. Era um hábito cativante, que ela tentava manter em segredo.
— Mas não quero que se preocupe com essas coisas, querida — acrescentou ela. — Vá se divertir com Elvis. O rapaz está precisando de você agora.
Balancei a cabeça e beijei-a.
— Prometo que cuidarei muito bem dele, Dodger.
Senti-me culpada por deixá-la. Ela se preocupava demais, como acontecia com todos os Presley. Era contagiante. Vovó riu suavemente e comentou:
— Ninguém jamais me chamou assim além de Elvis.
Durante toda aquela noite a turma jogou sinuca, assistiu televisão e fez incursões à cozinha, assediando Alberta ("VO5"), que não parava de fazer comida.
Compreendi que não havia qualquer rotina determinada em Graceland. Todos entravam e saíam como lhes aprouvesse. Não era um lar, mas sim uma casa aberta, à disposição de todos os amigos... e com plena aprovação de Elvis, é claro.
A noite terminou por volta das quatro horas da madrugada, quando Elvis despediu-se de todos e pegou-me pela mão. Eu estava exausta, já que, na expectativa da viagem, passara dois dias sem dormir. Enquanto subia pela escada de carpete branco, fechei os olhos e desejei já estar na cama. Em seu quarto, Elvis deu-me duas pílulas vermelhas grandes, explicando:
— Tome isto agora e quando for deitar estará relaxada e revigorada. Eu não precisava de nada, mas ele insistiu, dizendo que me ajudariam a dormir melhor e que eram um pouco mais fortes do que as pílulas que eu tomara antes.
Não as reconheci. Eram maiores do que as outras. Deviam ser uma dose para cavalos, pensei; mas acabei tomando as pílulas, apesar de toda relutância.
Fui tomar um banho. Arriei na banheira, encostando a cabeça na beira. O braço parecia tão pesado que mal conseguia levantar a mão; as pálpebras davam a impressão de serem de chumbo. Mas eu me sentia bem e um pouco tonta.
Quanto mais eu ficava de olho na banheira, menos energia tinha. Foi com bastante dificuldade que consegui me levantar. Tentando focalizar a cama, cambaleei para o lugar em que Elvis estava deitado. E depois apaguei.
Era despertada de vez em quando pelo som de vozes distantes. Houve uma ocasião em que tive a impressão de que Elvis me sussurrava algumas palavras. Em outro momento, vi seu pai. Não sabia se estava sonhando ou tendo alucinações. Quando fechava os olhos, sentia o quarto girando. Depois de um longo tempo, senti uma mão macia me massageando e acariciando o braço.
— Priscilla? Priscilla? Sou eu, Vovó. Você está bem querida?
Lentamente, tentei levantar a cabeça, mas estava pesada demais e descaiu.
ELVIS E EU
— O que deram a essa menina? — ouvi alguém indagar. — Não podem dar alguma coisa a que ela não está acostumada. Talvez fosse melhor chamarmos um médico, filho. Ela se encontra em péssimo estado. Não devemos correr qualquer risco.
Consegui focalizar os olhos parcialmente fechados em Elvis, pisquei para ele, sorri.
— Não vamos chamar médico nenhum — declarou Elvis. — Ela já está se recuperando.
Ajoelhando-se ao meu lado, ele me levantou a cabeça. Descobri então que não estava em seu quarto, mas sim estedida na "chaise longue" branca que ficava em seu escritório, ao lado do quarto.
— O que estou fazendo aqui?
— Eu a trouxe para cá depois do primeiro dia — respondeu ele, em tom preocupado. — Estávamos tentando revivê-la.
— Mas acabei de ir para a cama — murmurei, engrolando as palavras.
— Baby, você nos deixou apavorados. Está apagada há dois dias, por causa de duas pílulas de Placidyl quinhentos miligramas. Eu devia estar doido quando dei isso a você.
— Dois dias? Mas vou perder dois dias de minha viagem! Que dia é hoje?
— 23 de Dezembro.
— Oh, não!
— Não se preocupe. Ainda temos bastante tempo. — Elvis sorriu e acrescentou: — Prometo, Baby, que vou compensá-la por tudo.
ELVIS E EU
CONTINUA,,,,,,,,
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